Empoderamento Pedagógico

Era sexta-feira, ano de 2020, e decidimos que na semana seguinte, a presença dos alunos seria facultativa. Ninguém apareceu … apenas funcionários e corpo docente.

O trânsito havia melhorado muito naquela segunda-feira.

Na escola, rostos alegres dos alunos deram lugar aos olhos arregalados dos adultos presentes.

Os espaços antes lotados pelo burburinho de crianças e adolescentes tornou- se, naquela segunda-feira, um vazio enorme; um vazio transbordando dúvidas, incertezas, medo…

Naquele dia, o Brasil deu as mãos, aos poucos, ao resto do planeta, em um mergulho no mar mais sombrio do qual se tem notícias.

Ruas vazias. Escolas fechadas. Famílias determinadas ao isolamento espontâneo ou forçado. Escolas vazias.

Escolas vazias. Escolas vazias… o som do silêncio e a imagem do vazio ecoa nos meus piores pensamentos.

E agora? A pergunta que não cala, desde então: e agora?

Não é a Educação a única possibilidade real de transformar o mundo? Para mim, sim. Pessoas educadas pela aprendizagem, pensam, agem, interagem…

E agora? Escolas vazias…

Este foi o ponto crucial da reviravolta: a escola dormiu presencial e acordou a distância.

Pesadelo! Medo! Insegurança! Os mais assustadores sentimentos invadiram minha mente, atordoaram meus sonhos, inquietaram meus conhecimentos.

E, de repente, como mágica, acontece o inimaginável : a transformação possível.

Toda uma vida escolar na palma da mão. Que paradoxo : motivação, ensino, aprendizagem, tudo dentro do celular.

Foi aí que defini Empoderamento Pedagógico: a capacidade de transformar sonho em realidade por meio do conhecimento, da criatividade, do engajamento de uma equipe para que a missão educacional permanecesse na mira dos nossos passos.

O dia deixou de ter 24 horas, não havia carga na bateria suficiente para tantas mensagens. Grupos no WhatsApp eram formados como progressão geométrica.

Perguntas sem respostas.

Desde então, tornamo-nos incansáveis; uma legião de Educadores determinados a não deixar que a aprendizagem fosse contaminada por um vírus.

Escolas se uniram para pensarem, juntas, em soluções.

Professores se uniram para descobrir plataformas, dinâmicas, ferramentas para que as salas de aula invadissem as salas de visita.

E deu certo. Esquecer relógio e tempo, visualizar olhos brilhando pelo saber, surpreender e encantar alunos e familiares deram sentido às noites mal dormidas, ao almoço na frente do computador e do celular.

Muita leitura! Muita pesquisa ! E fomos nos abraçando virtualmente, nos emocionando com as descobertas, nos enfeitiçando com as descobertas próprias e alheias.

Toda crise tem uma saída- acredito muito nisto. E a pandemia do Coronavírus trouxe uma outra pandemia: o Empoderamento Pedagógico.

O planeta está pesquisando, aprendendo. Professores não dormem senão debruçados na ansiedade do desconhecido ou na euforia das conquistas.

A primeira aula on-line das escolas presenciais foi um marco histórico ! Envolveu comunicados às famílias, reorganização de horário, cumplicidade do corpo docente. Envolveu o imprevisto da plataforma que poderia não suportar, da internet que poderia falhar de ambos os lados – da escola virtual e da sala de visitas das famílias.

Ah! Tanta coisa neste processo que já dura um ano…

Professores dando aula para professores, criando tutorial para novas ferramentas; professores enviando links com sábias e inteligentes leituras; e os ensaios para gravar uma aula? Como colocar na tela do aluno um link? Tantas novidades foram vivenciadas neste tempo todo!

Não consigo dimensionar a intensidade das 48 horas de cada dia do último ano.

Empoderamento pedagógico! É só no que penso, desde aquela sexta-feira.

É tempo de transformação , de ressignificar nossa escola.

Não tenho dúvida que sairemos diferentes de tudo isto: mais humanizados, mais determinados.

Empoderamento Pedagógico: é o momento de nós, Professores e Gestores Educacionais nos apropriarmos destes novos conhecimentos e agradecer a chance que temos de transformar nossa realidade.

É a vez da escola aparecer como o caminho da socialização, da aprendizagem significativa.

É o momento da sociedade valorizar cada segundo da prática escolar.

É a certeza de que Professores são os mestres da melhor e mais doce missão : despertar no outro o brilho no olhar em cada descoberta.

Era um dia qualquer na minha infância e eu brincava de escolinha.

Era dezembro de 79 e eu me formava Professora.

Era dezembro de 83 e eu me formava Pedagoga.

Era março de 2020 e eu me transformava.

É março de 2021 e continuamos entre presencial, on-line e híbrido… que caminhada transformadora!

Amanhã será um novo dia e nada estará acomodado, apesar das conquistas das equipes. Simplesmente porque acomodar não combina com Educar – a não ser que seja acomodação e assimilação- quem lê Piaget, entenderá.

Dias e noites no caminho da transformação pelo conhecimento.

Empoderamento Pedagógico. Vamos dormir. A escola está empoderada e não tem volta.

Vamos dormir. A Educação está no devido lugar: nos olhos do Planeta.

Não! Ainda não podemos dormir. Meu texto retrata a parcela mínima de nosso Brasil.

Vamos empoderar a Escola para todos. Um longo caminho, mas possível.

Que as noites de insônia tragam , para toda a sociedade, a inquietude do abismo entre as diferentes realidades sociais .

O Empoderamento Pedagógico só tem sentido se atingir a todos.

Após um ano inteiro de novos horizontes, aprendendo a lidar com as perdas e o sofrimento próprio e do outro, imbuídos de empatia, precisamos olhar para o significado de Educar e planejar ações para que o abismo entre o público e o privado seja revertido.

Presencial? On-line? Híbrido? Só faz sentido se for para todos! Sigamos …

Lígia Fleury é Pedagoga, Diretora de escola, Pós Graduada em Psicopedagogia e faz parte da equipe da Escola de Pais XD Ministrando o cursos “Aprenda a participar da vida escolar de seu filho de forma presente e eficiente”.

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