“Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais… Será?”

Elis Regina que me perdoe, mas será que a sua afirmação ainda é válida?

A verdade é que, quando éramos jovens, comumente descartávamos as opiniões de nossos pais sob a alegação de que eles não entendiam nada, que eram antiquados e que o mundo era diferente da adolescência que eles viveram.

Mas, analisando de maneira mais objetiva e factual, quando o assunto era carreira, poucas diferenças conceituais separavam a nossa geração da deles.

A transformação digital ainda era embrionária e os valores ainda eram muito semelhantes sob a ótica intergeracional.

Em ambas as gerações pode-se perceber enormes semelhanças:  o ensino formal era supervalorizado e os estudantes de faculdades de primeira linha tinham uma vantagem bastante acentuada perante os demais.

As carreiras se desenvolviam de maneira linear e, quanto maior o tempo de permanência na mesma empresa e a escalada dentro da hierarquia, mais valorizado o profissional era. A motivação para se dedicar mais era predominante baseada no fator financeiro e a busca pelo equilíbrio emocional era considerado característica de profissionais descompromissados. E a crença era de que quanto maior a semelhança entre os profissionais, maior o alinhamento de ideias, maiores seriam as chances de sucesso.

A liderança agia sob a forma de controle e cobrança e não era responsabilidade dos líderes se envolver nas necessidades individuais dos seus colaboradores.

Voltando ao presente, novembro de 2021, quando nossos filhos adolescentes disserem que não entendemos nada… ELES TÊM TODA RAZÃO!

Pais que se atualizaram e entendem o furacão de mudanças que ocorreram no mercado de trabalho têm plena consciência de que os conceitos descritos anteriormente caducaram”. Hoje vive-se em um ambiente com dinâmicas e valores completamente diferentes. E por isso, os pais que realmente têm interesse de dar suporte e participar de maneira agregadora na decisão de carreira de seus filhos precisam entender o novo cenário.

Antes de mais nada é preciso entender que as profissões serão cada vez mais um dos maiores focos do impacto da transformação digital – e já o são! Muitas profissões deixarão de existir, parcialmente ou em sua totalidade, em função da tecnologia. Por outro lado, muitas outras serão criadas.

Isso faz com que a decisão de carreira que o jovem tome hoje reflita essa previsão de futuro. Profissões que são consideradas nobres, se assim podemos chamar, como médicos e advogados, com o advento da Inteligência Artificial terão seu escopo totalmente remodelado.

Entretanto, áreas de atuação que, hoje, fazem muitos pais torcerem o nariz, como as relacionadas aos “games” são um dos mercados mais promissores, empolgantes e rentáveis para se trabalhar.

Somente uma boa educação em escolas de primeira linha não garante nada. As habilidades emocionais, as famosas soft skills, assumem o lugar mais alto no pódio do sucesso profissional.

Dinheiro apenas não é mais a variável principal na decisão de uma carreira. O jovem prioriza o seu bem-estar, o seu propósito individual e o alinhamento dos seus valores com a empresa onde trabalhar.

Chefes controladores não são mais tolerados. Existe a busca por líderes humanos que inspirem o profissional e entendam que a “personalidade dupla” entre o profissional e o pessoal nunca existe. Somos seres humanos unos e únicos em todas as situações. E caso haja comportamentos diferentes entre essas duas situações, isto nada mais é do que um indício de falta de autenticidade.

Saber que a empresa se preocupa com o meio-ambiente, com o impacto social e tem uma governança séria e confiável também é de enorme relevância para o jovem.

Assim como garantir diversidade de pessoas trazendo visões diferentes, proporcionando a troca de opiniões por primas diversos é de extrema necessidade para longevidade dos negócios.

Todos esses fatores já são suficientes para concluirmos que há um abismo enorme de realidades entre as gerações pré e pós transformação digital. E esse abismo só será reduzido se os pais dos jovens de hoje se predispuserem a entender de maneira empática que o mundo de seus filhos é outro.

Mas a mudança ocorre de forma tão rápida que, independentemente da idade, tudo é novidade. E por isso, sendo os jovens naturalmente menos maduros, qualquer ajuda é bem-vinda, desde que seja alinhada ao momento atual.

A famosa frase “na minha época” literalmente ficou lá na “sua época” …